# Engenheiro Lisboa #Ligaportugal
Miguel Barbas, Engenheiro foi entrevistado para o Jornal Record devido à sua função de engenheiro na Liga Portugal.
Transcrevemos aqui a entrevista.
Um jogo de futebol é bem mais do que 22 atletas atrás de uma bola e alguns senhores a velar pelo cumprimento das regras. O palco (estádio e relvado) assume cada vez mais importância e para garantir que o mesmo está em perfeitas condições existe, entre outros, Miguel Barbas, elemento da comissão técnica de vistorias da Liga Portugal (composta por dois engenheiros) liderada por Emídio Fidalgo. “Fazemos o licenciamento dos estádios no início da época. Têm de obedecer a um certo número de requisitos expressos no regulamento de competições. Ao longo da época estamos atentos a quaisquer alterações que ocorram”, revela o engenheiro civil de 38 anos.
O anfiteatro é passado a pente fino e só depois é emanado um veredicto: aprovado ou não aprovado. “Há que verificar a capacidade e as infraestruturas do estádio. E em que condição está o relvado. Se está delineado e com marcações. Onde fica o grupo organizado de adeptos, etc…”, conta Miguel Barbas, destrinçando dois tipos de vistorias: “Há as de licenciamento, que começam a 15/20 de março e duram até ao início da época. Ocorrem nesta altura porque podem obrigar a obras. Depois há as extraordinárias, realizadas muitas vezes a pedido dos clubes. Podem querer alterar uma zona técnica ou a capacidade do estádio [pôr ou tirar cadeiras]. Também podem ser suscitadas por anomalias encontradas ao longo do ano, situação menos usual. Desde que entrei na Liga, há seis anos, lembro-me, por exemplo, do dia em que voou a cobertura da Luz.”
A taxa de aprovação é elevada. “A maioria dos estádios cumpre os requisitos. Tem-se evoluído muito, há estádios fantásticos na Liga NOS. Mas há também os que não são aprovados à primeira. Vêm normalmente do futebol não profissional. Não têm ‘encadeiramento’, utilizam muitas vezes relvados sintéticos”, afirma Miguel Barbas, adiantando que o plano de vistorias ganhou uma nova amplitude: “Há dois anos começámos também a efetuar visitas iniciais aos estádios dos clubes que podem subir à 2ª Liga. Baseando-nos na classificação, falamos com os que têm perspetivas de subir. Cheguei a visitar Vila Franca e Mafra.”
Acima da média europeia
O parque de estádios português a ninguém envergonha comparado com o que se passa na Europa. “Se formos à Rússia e à Croácia, bem! Já estive em estádios da Champions em que as instalações sanitárias eram provisórias. Casas de banho de plástico! Em Portugal contam-se pelos dedos das mãos os estádios em que as infraestruturas sejam provisórias. Só acontece quando estão em obras. Os nossos estádios estão cada vez melhores e os relvados são alvo de cada vez melhores tratamentos. As pessoas têm brio em apresentar boas condições. Bons exemplos há muitos. O do estádio do Feirense, agora remodelado. O do Marítimo, que apresenta um nível europeu”, anota o fundador da Sabrab, frisando que o estado dos relvados é monitorizado semanalmente: “Têm de ser cada vez melhores e mais uniformes, pois os olhos também comem!”
A falha mais comum encontrada nos recintos deve-se a atos de vandalismo. “Tem a ver com as cadeiras partidas na zona do grupo organizado de adeptos. Também nos deparamos amiúde com questões técnicas e burocráticas. A iminente caducidade de um seguro, a ausência da atualização do registo das medidas de autoproteção. Notava-se, igualmente, muitas vezes a ausência de um marcador eletrónico. Agora já todos o têm! Dos estádios que vistoriei este ano na zona de Lisboa só o do Cova da Piedade não passou à primeira. Foi dado como não aprovado por não ter cadeiras. A Liga dá dois anos de isenção quanto à instalação de videovigilância, cadeiras e torniquetes. Passado esse tempo, não aprova quem as não tenha”, adianta Miguel Barbas com acentuada pronuncia alentejana, ou não fosse natural de Elvas.
Um ranking de estádios propriamente dito não existe, embora estes estejam escalonados em três patamares. “Os de nível 1 cumprem todos os requisitos da Liga. Para ser de nível 1 precisa de ter, entre outros, uma sala para as forças de segurança, duas salas de primeiros socorros e oito cabinas de rádio. Se só tiver cinco passa para o nível 2. O nível 3 é aquele em que não cumpre os requisitos, não existindo, todavia, qualquer fator eliminatório. O do Estoril é de nível 3 porque tem uma bancada fechada”, diz Miguel Barbas.
Alarmismo na Amoreira
A invasão do terreno de jogo por ocasião da visita do FC Porto à Amoreira fez correr muita tinta. Houve risco de a bancada ruir? Miguel Barbas não se furtou a explicar a questão. “Foi uma situação de alarmismo que motivou a fuga das pessoas da bancada. Andei alguns dias preocupado até perceber o que realmente se tinha passado. Fui um dos engenheiros que ali fizera a vistoria no início da época. Foi feita em finais de março, princípios de abril, não tendo sido encontrado qualquer indício daquilo. A situação aconteceu em janeiro, nove meses depois. Falou-se que a estrutura estava a assentar, mas essa informação é má. A estrutura nunca esteve a assentar. Existiu, isso sim, uma laje do pavimento que assentou. Não foi a bancada mas a base. Se alguém tivesse visto a racha de quatro dedos 15 dias antes teria lançado o alerta.”
O Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) veio serenar a questão. “A partir do momento em que o LNEC afirmou que não havia risco de colapso fiquei tranquilo. Entretanto, o LNEC emitiu vários pareceres já tendo sido reformulada parte da bancada”, diz Miguel Barbas.
Tudo controlado pelo LNEC
A monitorização da bancada tem sido levada a cabo regularmente pelo LNEC. “Continuou a ser medida até hoje. Não mexeu! Nem para baixo, nem para a esquerda ou direita. A bancada está impecável! O que ficou interdito não foi a bancada, mas a zona das casas de banho e balneários. A bancada continua fechada porque o Estoril passou para a 2.ª Liga e não investiu na reformulação do pavimento. A nível de coberturas está tudo em condições”, vinca Miguel Barbas, abordando ainda a questão da mudança do Belenenses para o Jamor: “A SAD é que nos diz onde vai jogar. Se nos tivesse dito, por exemplo, que seria em Rio Maior, teríamos ido a Rio Maior. Já havíamos inspecionado o Restelo, mas este ainda não estava aprovado. Inspecionámos depois o Jamor. Qual é o nível atribuído ao Estádio Nacional? Será de nível 2 porque não tem cobertura…”
Parceria com Espanha para o Mundial
Miguel Barbas não esconde que gostaria de ver Portugal fazer uma parceria com Espanha para a organização de um Mundial. “Temos cinco estádios que são utilizáveis, não requerendo grandes alterações. Acho difícil Portugal lançar-se sozinho num projeto destes, mas creio que, mais cedo ou mais tarde, isso acabará por suceder-se ao lado de Espanha”, vinca o engenheiro civil, frisando que os estádios de Benfica, FC Porto e Sporting têm qualidade para albergar uma final das provas da UEFA: “Os nossos estádios estão ao nível dos melhores. Esses três anfiteatros, tal como o do Sp. Braga, são fantásticos. Técnica e esteticamente, o do FC Porto é um dos que mais me agrada. Depois há aqueles estádios que é uma pena estarem parados ou praticamente parados. O do Algarve, o de Aveiro, o de Leiria…”
Nomeado para o prestigiado ‘German Design Award 2019’
A Sabrab (barbas escrito de trás para a frente) é a menina dos olhos de Miguel Barbas. A empresa por ele fundada fornece serviços de arquitetura, engenharia e construção. Ele está nomeado para o prestigiado ‘German Design Award 2019’, categoria de ‘Arquitetura de Interior’, pelo projeto do escritório da Sabrab. O nome do vencedor é conhecido a 23 de novembro, sendo o galardão entregue a 8 de fevereiro, em Frankfurt. “Espero ir lá! Seria um ótimo sinal”, diz. Enquanto aguarda o veredicto, o engenheiro civil vai trabalhando no escritório… no qual há uma mesa de ténis de mesa/snooker e uma bota de Ronaldo autografada. “Gosto de jogar pingue-pongue após o almoço. Por vezes estou a suar quando chega um cliente…”, anota.
Tem alguma questão ou sugestão que queira compartilhar connosco?
Deixe um comentário